Artigo de 2011 - Planeta náufrago

O músico Geraldo Azevedo costuma erguer um brinde à vida em seus concertos – ancorado no inseparável violão, ele faz uma pausa nas canções e bebe água no palco, num ritual que o próprio compositor classifica como celebração da vida. E tem razão. Por isso, o Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março, é uma data literalmente vital: ela exige uma profunda reflexão sobre o destino da humanidade.

Apesar de ser o “Planeta Água” cantado em verso e som por Guilherme Arantes, a Terra tem menos de 1% de água potável, ainda por cima, mal distribuída. Os especialistas alertam que, se o mundo não preservar os mananciais existentes, a água substituirá o petróleo como estopim de futuras guerras.

Neste ano, o Dia Mundial da Água tem como tema “Água para as Cidades: Responder ao Desafio Urbano”. Em Sorocaba, um desses desafios é o destino do Rio Pirajibu, maior afluente do histórico Rio Sorocaba – verdadeiro berço de nossa “terra rasgada”, cuja semana também se comemora. O Pirajibu clama por mais atenção do poder público, apesar de ser o segundo rio da cidade em volume de água.

Através de uma articulação idealizada por lideranças da Zona Industrial, sob a coordenação do empresário José Bernardo da Silva, presidente da Aeber (Associação dos Empreendedores do Éden e Região) e do ambientalista Claudio Robles, presidente da AA-25 (Associação dos Amigos do Bairro do 25), o Pirajibu conquistou uma câmara técnica específica dentro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Sorocaba e Médio-Tietê. É, sem dúvida, o instrumento mais importante na luta pelo resgate do rio.

Com uma área de drenagem de 2.160 quilômetros quadrados, quase cinco vezes o tamanho de Sorocaba, a Bacia do Pirajibu, segundo estudo da Unesp, apresenta múltiplos e intensos usos, o que leva a um gritante processo de deterioração de suas águas. O rio recebe grande volume de esgoto industrial já em sua nascente, em Alumínio, e continua servindo como descarga de toda sorte de dejetos nas demais localidades que percorre.

Ao ver as agruras do Pirajibu, fico mais convicto de que a salvação do planeta começa em casa – na cidade que habitamos. Como ensina Fernando Pessoa, nenhum rio “é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia” e o Pirajibu é um rio da nossa aldeia. Por isso, sempre que o abraçamos simbolicamente, num ato público que se repete todos os anos, estendemos esse abraço à própria Terra – que não pode se tornar um planeta náufrago, afogado na poluição de suas próprias águas.

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