Devido à sua influência no clima e nas águas, as florestas são vitais para a sobrevivência humana. Por isso, durante o Fórum das Nações Unidas para Florestas, realizado em Nova York , a ONU declarou 2011 como o Ano Internacional das Florestas. E a 10ª edição da Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP 10), com representantes de 193 países, incluindo o Brasil, fez do combate ao desmatamento uma de suas principais bandeiras.
As florestas recobrem 31% da superfície terrestre (mais de 4 bilhões de hectares), onde vivem cerca de 300 milhões de pessoas e se concentra 80% da biodiversidade do planeta. Mesmo assim, segundo a FAO (órgão da ONU para Alimentação e Agricultura), de 2000 a 2010, o mundo perdeu 13 milhões de hectares de florestas a cada ano, entre devastações humanas e fenômenos naturais. E, desde 2000, houve uma redução de mais de 40 milhões de hectares nas florestas primárias, que representam 36% do total.
Com múltiplos ecossistemas em seus biomas (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal), o Brasil detém a maior biodiversidade e a maior área de floresta tropical do planeta. Diante disso, nossa responsabilidade deve ser proporcional ao tamanho de nossas riquezas naturais, tratadas sob a égide da sustentabilidade. De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que monitora a região há 20 anos, a taxa de desmatamento anual da floresta deve chegar a 7.500 km2 em julho próximo (em relação aos 12 meses anteriores), mais do que a taxa de 6.450 km² do período anterior.
Os nossos grandes “problemas” e “desafios” estão:
§ Na extração de madeiras, que depreda fortemente as florestas. No Brasil, 90% do comércio madeireiro tem sua fonte na Amazônia e é realizado, em sua maioria, de modo ilegal.
§ No avanço do agronegócio, que tem agravado o problema. No lugar de florestas, grandes pastos são formados para receber gado, lavouras de soja, algodão e milho (grandes commodities de exportação), o que no mínimo compromete o clíma e a biodiversidade do planeta;
§ A reforma do Código Florestal Brasileiro, atrelada ao agronegócio, é outra grave ameaça às nossas florestas. Especialistas como os professores Jean Paul Metzger, do Instituto de Biociências da USP, e Thomas Lewinsohn, da Unicamp, sustentam que a reforma criará um verdadeiro “Código do Desflorestamento”, podendo levar ao desmatamento de 70 milhões de hectares e ao fim de 40 milhões de hectares de reservas legais. Com isso, serão geradas de 25 a 31 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa – o que inviabilizaria a meta assumida pelo Brasil, em Copenhague, de reduzir suas emissões em 39% até 2020.
Necessitamos criar políticas públicas sérias e comprometidas com o desenvolvimento sustentável, que incentivem e promovam o desenvolvimento do setor agrícola e florestal (que não são antagônicos, e podem ser complementares), inclusive com projetos que possam recuperar os mais de 60 milhões de hectares de terras agrícolas degradadas e abandonadas, fruto de um modelo agrícola predatório.
Precisamos enxergar nossas florestas, como um patrimônio de valor imensurável, pois ainda não conseguimos dimensionar seus bens em termos de valores e serviços, não apenas a curto prazo, mas principalmente para as futuras gerações. Transformar a floresta viva e sustentável em um bom negócio, com a criação de incentivos financeiros para manutenção de áreas nativas, são os nossos grandes desafios.
Cabe a toda sociedade brasileira, e não somente aos segmentos econômicos poderosos, como o agronegócio, discutir e implementar uma política nacional de gestão sustentável dos nossos recursos naturais, do nosso solo, e em especial da nossas florestas. O planeta observa atentamente o caminho que iremos percorrer, pois hoje somos modelo e até referência. Portanto, o Brasil não pode parar (ou perder) o trem da história.
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